De repente me vi sem chão, sem apoio e sem lastro daquele
que foi o grande responsável junto com sua querida Dela (era assim que ele
chamava minha mãe, Adelaide) pelo homem no qual me tornei.
Porém, por muitos anos após o seu desencarne, o espírito de
meu pai me aparecia como num sonho, do qual eu acordava com a certeza que ele
estava sempre ali para continuar cuidando de mim e de seu neto querido, o meu
filhote Marquito, com o qual conviveu fisicamente apenas dois anos, mas, que
constantemente, chamava a minha atenção para o vovô que estava lá para visitá-lo.
Francisco Anselmo era simples, trabalhador, sem muito estudo
(estudou apenas até o quarto ano primário) mas fez de sua vida digna, oriunda de
família emigrada da Itália (ele gostava e falava com orgulho da sua origem
calabresa) a base concreta para os filhos que resolveu gerar.
Palestrino ferrenho conseguiu com que seus dois filhos
homens, pois tinha também a Edenir, seguissem o seu caminho, e começassem a
trilhar a jornada de torcedor de futebol do seu amado Palmeiras.
Quantas vezes, aos domingos, lá ia Chiquinho, Edson e Edélcio
assistir o seu verdão querido jogar nas vizinhas cidades de Ribeirão Preto e
Araraquara quando eram marcados jogos do time esmeraldino com o Botafogo, Comercial
e Ferroviária. Até em Rio Preto, um pouco mais longe da nossa terrinha natal,
Taquaritinga, o nosso paizão levava-nos para torcer pelo verdão.
Mas o coração dele e os nossos dividiam o seu amor ao
futebol com outro time, o glorioso CAT – Clube Atlético Taquaritinga, o Leão da
Araraquarense. E essa divisão tornou a nossa vida futebolística muito difícil,
quando, em um belo domingo ensolarado, o velho Estádio Antonio Storti recebeu,
num jogo amistoso para jogar contra o CAT, o grandioso Palmeiras do Goleiro
Oberdan Catani, Jair da Rosa Pinto e tantos outros craques esmeraldinos. E lá
estavam, Chiquinho e seus dois filhos nas famosas arquibancadas sociais do
campão (apelido carinhoso do velho estádio municipal) com os corações
dilacerados e divididos ao meio pelo amor aos seus clubes queridos. Mas, era um
dia de festa para todos os taquaritinguenses, cuja maioria oriundi, torcia também
pelos periquitos (mascote símbolo do Palmeiras na época), e no final das contas ganharam todos, cateanos
e palmeirenses, naquele dia em que a cidade inteira lotou o campão.
Desde o término de meus estudos ginasiais e início do curso
científico, eu tinha como objetivo cursar odontologia, e, Chiquinho novamente,
me fez transformar esse objetivo em meta para ingressar na Faculdade de Farmácia
e Odontologia de Araraquara, que na época tinha um dos melhores cursos de
odontologia do Brasil. Assim, no fim do ano de 1966, fiz a minha inscrição
no vestibular da FFOA, e em janeiro fiz os exames. A escola pública dessa época era tão forte que
credenciava a quase todos que saiam do curso científico a prestarem o
vestibular e ingressarem diretamente nos cursos superiores, poucos presisavam
de cursinhos preparatório. Mas, tive a infelicidade de não atingir média em
Física, não conseguindo, então uma das vagas.
Como algumas vagas não foram preenchidas, a Faculdade resolveu
realizar, dias depois, um segundo vestibular, mas por circunstâncias difíceis
que meu pai passava nesse momento, decidi não me inscrever para poupá-lo de
gastos que não poderia assumir.
Mas, num dia em que eu o ajudava na sua lida com fios,
alicates, tomadas e fusíveis (ele era eletricista instalador e eu, por vezes, seu auxiliar), do alto da
escada ele me perguntou: “Você fez a inscrição para o novo vestibular?” e a
minha resposta foi negativa, com a justificativa das dificuldades financeiras
pelas quais ele passava.
A sua resposta foi contundente: “ Você vai fazer a sua
inscrição, pois, nem que a gente tenha que passar a pão e banana, você vai ser Dentista”
Alí, meu pai me deu a lição que repassei para os meus filhos
e procuro sempre passar para os meus alunos: “Faça de seus sonhos um objetivo, e
transforme o seu objetivo em meta”
Meu querido pai, onde quer que você esteja, reencarnado ou
não, saiba que você é o maior responsável pela minha vitória, que começou a se desenhar
naquele início de fevereiro de 1967, e que começou a se concretizar no dia 18
de dezembro de 1970: a minha formatura como Cirurgião Dentista.
Mas, além dessa força, agradeço todos os princípios e
valores morais que você me propiciou e que sempre nortearam a minha vida e me levaram
a ter a mesma dignidade que você sempre teve e defendeu até o último dia da
sua vida terrena!
Graças a você eu vivo hoje mais um:
FELIZ DIA DOS PAIS!!!
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